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quarta-feira, outubro 10, 2007

Ninguém devia suicidar-se em horas de ponta

Aqui pelo meu sítio, têm acontecido ultimamente uma série de suicídios,( inexplicável num país cor de rosa como o nosso), curiosamente sempre na mesma rua e da mesma forma, queda livre do alto de edifícios.

Para além da ocorrência, que naturalmente agita a população, há os detalhes curiosos das observações emitidas, conhecida que é a incapacidade que todos os portugas têm de ficar calados, em vez de dizer disparates, em situações desse género.

Nestas circunstâncias, revelam-se os mais diversos tipos de personagens, claro que, como o suicida em causa, era um homem de idade, logo algumas mulheres no café em frente, onde eu também estava, acertaram de imediato as inevitáveis conclusões de ordem social, "coitado as pessoas chegam a uma certa idade e vêm-se sozinhas, sem um carinho sem amor".

Avisadamente também proferi uma declaração pública, inteligente como sempre, " ás vezes as pessoas cansam-se de viver", disse eu, de forma bem original.

Percebi que tinha acertado, pelo acento afirmativo de cabeça de alguns.

Tudo seria normal se tivéssemos ficado por aqui, porém nestas coisas o pior vem depois, quando esgotados os lugares comuns, as pessoas continuam a sentir a irreprimível vontade de continuar a falar.

"As pessoas atiram-se logo nestas ruas, atrapalhando o trânsito, claro que não pensam nisso", ouvi eu, juro, do velho R, reformado da CP, que em África, tinha disto, como habitual, já que as pessoas se atiravam muito para a linha do comboio.

Outras pérolas se seguiram, achei então melhor começar a tomar nota, pressentindo uma hecatombe asneirenta. " Ele escolheu este sítio, porque pelo menos sabia que aqui havia pessoas conhecidas, sempre teria acompanhamento, "afirmava a dona do café, onde o suicida algumas vezes tomava qualquer coisa.

Depois temos o departamento das pessoas que personalizam tudo, tudo é umbigal, vejamos um exemplo

"Esta semana é péssima para mim, ontem foi uma cena de facada lá no meu prédio, hoje é isto". Fez-me pensar que o suicida, talvez não tenha conduziu o seu acto da melhor forma, deveria ter guardado o voo picado, para outra semana em que a semana de M. estivesse mais aliviada de horrores.

Aguardei mais uma hora, prolongando a leitura do meu jornal, porque o suicida que se lançou da altura dum oitavo andar, caiu em cima dum carro.

Confesso que esperei a pergunta que cheguei a adivinhar quando alguém disse "olha se tem caído em cima de alguém", aí encolhi-me todo e esperei a pergunta definitiva " e agora quem é que vai pagar os prejuízos no carro ?".

Que fique lavrado em acta, 2 horas depois da ocorrência, ninguém o perguntou no "meu café".


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