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quarta-feira, maio 16, 2007

Condenações em directo na TV

Não querendo discutir a questão do eventual rapto da jovem Madeleine, mais do que a ávida "brutalidade informativa" da comunicação social portuguesa ou da ignóbil ( bastas vezes reconhecida) literatura de cordel de alguns tablóides ingleses.

Não posso deixar de reflectir na possibilidade do arguido Robert Murat e do seu amigo russo, estarem inocentes de responsabilidade neste caso, muito embora as TVs, se permitam tratá-los sem respeito, trazendo a lume detalhes das suas vidas privadas, sem que para tal, calculo, tenham sido autorizadas.

Que poderá pensar agora, alguém que tentou ser prestável, disponibizando-se para ajudar as pessoas que na altura precisavam de ajuda, aos mais diversos níveis e de repente vê desabar sobre os seus ombros e de toda a sua família, a força da corja "jornaleira" sedenta de porcaria para alimentar "pontos de situação informativos", que mais não são que formas de captação de audiências e de venda de publicidade á custa duma criança desaparecida ?

Se fosse comigo a factura a apresentar haveria de ser bem pesada, juro.

A corja que espiolha tudo o que mexa, para se alimentar, amanhã, se aparecer outra pista, outro supeito, partirá na maior, em busca de outro filão, ignorando tudo o que disse e o que escreveu, sobre outros cadáveres que foi deixando para trás, não se preocupando se destruiu a vida de outras famílias.

É a pergunta que me incomoda e se Murat está inocente ?

Incomoda-me porém, ainda mais, pensar até onde irão descer os níveis de solidariedade humana ? Até onde irá cair o nível da capacidade de nos interessarmos pelo dificuldades do "vizinho do lado" ?

Sei lá o que pode acontecer se ao pagar uma sandes e um galão a uma criança que me diga ter fome, não possa vir a resultar numa acusação de pedofilia.Transformando-se um acto de mera ajuda aos meu semelhante, em algo de monstruoso.

Tenho receio que este caso Murat, possa fazer passar pelas cabeças das pessoas, que uma simples ajuda pode afinal fazer doer.

6 comentários:

Rita disse...

Chiça, é mesmo verdade. Ainda ontem eu e o meu pai estávamos na conversa e diziamos: Eh pá agora uma pessoa até fica acanhada de brincar com uma criança.

Luís Maia disse...

Outra coisa que me incomoda muito e me vem constantemente à memória, é lembrar-me que quando foi o caso Joana, (aquela menina aqui de Portimão que desapareceu)o único meio técnico visível de apoio ás investigações, foi uma escavadora.

Chamava-se Joana era portuguesa e pobre.

Rita disse...

Sim. Eu acho muito bem que a Polícia esteja a desenvolver todos os esforços para encontrar esta criança e se forem ainda precisos mais meios acho que nem devem hesitar. Mas tenho pena é que não fosse igual noutros casos.

LMB disse...

Claramente as condições sociais dos infelizes desaparecidos, contam. Não deveria ser assim, mas é. Claro que o facto de não ser uma simples 'portuga' tb. tem a sua contribuição noticiosa, até pq. a imprensa britânica (tal como alguma norte-americana) é especialista em alarido. Mas, para complementar, há ainda uma vasta (e rápida) implementação de marketing, sobretudo de imagem pessoal, à volta do triste caso: o gajo madeirense do futebol, o outro que tb. ganha a vida a dar pontapés na bola e até britânico, a criadora do Potter, o barão da Virgin e até os rapazes dos Simple Mind ao cederem graciosamente os royalties do "Don't U forget about me" para uma bem montada edição de vídeo planetário. Uns têm Reuters outros têm bulldozers. Pelo menos que sirva para acabar em bem (o que infelizmente já ninguém acredita)

Luís Maia disse...

Claro que não ponho em causa a quantidade e qualidade dos meios postos à disposição dos investigadores neste caso da Maddie.Só lamentei a escassez no caso Joana.
Também não gosto do tom das corja "jornaleira", prontos para deixar cair o caso, logo que algo mais suculento se apresente.
Nem se incomodando com o que deixaram para trás.

LMB disse...

A nouvelle vague de jornalistas é assim que funciona. A notícia só é notícia enquanto for notícia; massacrando até à exaustão; de resto, se não vende mais jornais ou aumenta o share por isso, então não há justificação de estar a alimentar o 'chão que já deu uvas'. Vamos todos ver onde há 'mais sangue noticioso' e assim que acontecer de novo qq coisinha, estamos de volta para mais uns 'breaking news'.